segunda-feira, 24 de março de 2014

O jovem Magno

A campainha toca. A mulher, já de salto alto e vestido vermelho, se antecipa ao marido e abre a porta.

- Oi, Magno. Como você é pontual!

- Eu jamais a deixaria esperando.

- Me dá mais dez minutos que eu já desço para irmos.

- Claro! Espero o tempo que for preciso. - Sorri meio sem jeito ao perceber que o outro homem na sala está de pé, com braços cruzados e olhando fixo para ele.

- Julio, oferece alguma coisa para ele enquanto eu termino de me arrumar.

- Claro, meu amor. 

- Nem precisa, eu não quero nada.

- Ele quer sim. - responde o marido segurando o jovem pelo braço e levando-o até a cozinha.

- Mas eu nem posso beber, estou dirigindo.

- Bebe água.

- Não, obrigado.

- Vamos direto ao ponto: desde quando estão saindo?

- Bem, faz um tempo...

- Ela transa gostoso com você? É fogosa com você?

- Quem? - pergunta assustado.

- "Quem?" "Quem?". A minha esposa, rapaz!

- Se o senhor é o marido dela, quem deveria saber...

- Há quanto tempo você está comendo minha mulher? Onde se conheceram? - interroga chegando bem mais perto do outro.

- Mas... mas quem disse isto ao senhor?

- Você acha que eu sou idiota? Eu já tive amante. Sei como é. Conta tudo!

- Eu acho que...

- Sem enrolação, moleque!

- O senhor...

- Para de me chamar de senhor. Isto é uma tática baixa de acabar com minha autoestima, só porque você tem uns vinte poucos anos a menos do que eu. Usando essa calça agarrada marcando tudo. Todo cheiroso...

- ...

- Conta! Desembucha: onde a viu pela primeira vez? Como a conheceu?

- Através do Marquinhos.

- O Marquinhos te apresentou para a mãe dele? O meu filho te apresentou a mãe e agora você está saindo com ela! Você não sabe que é feio comer mãe de amigo? Você não tem escrúpulos, demoninho? 

- Mas Seu Julio...

- Ela está saindo com você porque deve achar que é pouco sexo uma vez por semana. Eu sou cardíaco, não posso ficar tomando esses remédios de "potência". Fumei demais, bebi demais e na tua idade eu usei outras coisas.

- Não tem nada a ver.

- Como não tem nada a ver? Como não tem nada a ver? Olha para minha barriga e olha a tua! Olha minha cara! Já não sou mais o mesmo, demoninho! - Põe uma mão no rosto e fala mais baixo do que já estava: - Só faltava ter pau grande...

- Seu Julio!

- Não diga o tamanho! Não venha me humilhar ainda mais dentro da minha casa!

- Eu vou para sala. Ela já vai descer.


- Fica aqui! Não terminei ainda. Vocês usam camisinha? Me dá um cigarro.

- O senhor não parou de fumar?

- Acabei de voltar. E não insista em me chamar de velho.

- Mas ela não gosta que fume dentro de casa.

- Como você sabe? Já veio aqui antes sem eu estar?

- Não. Marquinho que me contou.

- Você é um canalha! Fica pedindo informações dela pro meu filho.

- Não é isso...

- Chega de lero lero. Vamos combinar o seguinte: ou vocês transam aqui dentro quando eu estiver, fico na sala vendo televisão, e com o Marquinho fora de casa ou ela te encontra longe, em outro bairro. Não quero saber de vizinho falando que sou corno manso. Que homem vem pegar a Marina na porta e eu não faço nada.

- Nós só vamos jantar.

- Na semana que vem não precisa de jantarzinho. Ela só quer sexo com você. Ela me ama.

- Nunca duvidei disso, Seu Julio.

- Tá dito, rapaz! É Magno?

- Sim.

- É isso. Estamos conversados. Eu falo com a Marina quando ela voltar. E você que pague o jantar! Não estou podendo bancar gigolô. 

A mulher aparece na porta.

- Demorei?

- Nã...

- Como você está linda, meu amor! Concorda, Magno?

- Sim, está muito bonita.

- Obrigada, meninos. - ela solta um sorriso alegre.

- Eu vou assistir um filme na TV a cabo. Quando você voltar a gente conversa. Ele não precisa te trazer aqui. Pega um táxi.

- Júlio, o que é este cigarro na tua mão? Faz três anos que você não fuma!

- Voltei a fumar hoje.

- Magno! - ela exclama.

- Sim, foi ele mesmo que me ofereceu.

- Eu...

- Vão logo vocês dois para não ficar muito tarde.



O jovem abre a porta do carro e ela entra. O marido observa tudo pela janela.

- Ele desconfiou de alguma coisa, Magno?

- Não. Mas está confuso.

- Não sei se ele vai aceitar. - ela diz com a voz quase sumindo.

- Talvez ele possa ser muito mais flexível do que a senhora imagina.

- É justamente por isto que te chamei para jantar. Quero conversar contigo sobre como lidar com essa situação. Tenho medo que ele não aceite o Marquinho namorando um homem. Considero positivo que vocês já conversaram um pouco e agora ele te tem como meu amigo. E se você e o Marquinho se amam, por que nós, os pais, não deveríamos amar alguém que quer tanto bem ao nosso filho, né?

- Temos muito a conversar, Dona Marina.

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