quinta-feira, 20 de março de 2014

Erosmania*

A vida não é exata. Mundo não é exato. Como o voo errático da borboleta com suas frágeis asas cor-de-laranja que eu vi ao abrir a janela hoje de manhã. Eu gostaria que ela viesse posar em um dos meus ombros e dissesse "Está tudo bem, Adriano. Somos assim por causa do vento." Mas borboletas não falam. Os seres vivos que só dançam são muito mais difíceis de interpretar. Aliás, ela pouco se importa. Apenas é. Quem sabe?
E ontem eu decidi começar meu trabalho de conclusão de curso que tem como via principal o Erotismo. Reflexão sobre o tema que eu me dedico há muito tempo. Caminho que eu trilho ao respirar. Sou erosmaníaco. Eros é o deus que escapa das mãos de qualquer mortal e confunde até os deuses, segundo Hesíodo em sua Teogonia. Lidar com o erotismo é entrar num caminho pouco iluminado, porque apesar dos controles sociais e, consequentemente, de seus condicionamentos, há sempre pontos fora da curva, linhas incompletas, abismos e jardins que nos tomam de assalto.
Entre as dúzias de dualidades que me habitam, esta é certamente basilar: a insistente e querida racionalização e a erosmania. De um lado, tento e costumo apreender das coisas da vida e do mundo significados que deem segurança para eu andar sobre as horas; no outro, sou dado às experiências sensíveis do corpo, a um número variado de bocas, de sensações, de pensamentos vadios, do jogo infinito de possibilidades, tanto do meu erotismo quanto dos outros. (Para alguns pode ser surpresa: libertinos são bem racionais, não que seja totalmente meu caso.) Não há problema na convivência aparente da dualidade, porque tenho prazer em racionalizar, portanto, Eros também está intensamente embrenhado nas pretensões intelectuais. Porém, e admito com pouca facilidade em fazê-lo, é felizmente quando focos de breu se instalam na razão, que tateia, perdida, as paredes da pele, como quem diz "Onde vamos parar? Onde está a saída?", que me parece que o mundo chacoalha. É o desejo tomando a vida pela jugular, lambendo os pés, forçando as pregas do cu, cheirando a púbis, subindo pelas costas, falando provocações atrás da nuca. Eros faz um convite à vida e à morte. Desde um simples brigadeiro às orgias e saltos de paraquedas.
Erosmaníacos sofrem de quererem ser dez, mil, cem mil ao mesmo tempo para viver todas as paixões, amores e todas sensações que o corpo e o mundo podem proporcionar. São ávidos em sorver os sulcos da vida. Por isso também, ao contrário dos virtuosos, são egoístas porque são viciados.


A minha busca está contaminada por um forte apego à racionalidade e ao erotismo. A norma versus a transgressão. Um círculo de fogo inexato. É fácil? Não. Mas eu adoro me foder e gozar para cima.


*Escrito em 19/03/2014

Nenhum comentário:

Postar um comentário