sexta-feira, 4 de outubro de 2013

8 canções de Amor Livre na MPB

Sabemos que um dos maiores temas da música é o amor, passando pela dor de cotovelo ao desapego, do ideal e ilusório às grandes mágoas. Mas também é inegável que a maioria das músicas narram muito mais o amor romântico do que o amor livre, a poligamia ou o poliamor. O sofrimento, o choro, o ciúme, expectativas irreais e frustração, a procura da outra metade e do "amor verdadeiro", a vingança, a traição, e tantos outros aspectos que o amor romântico inspira compositorxs a escrevem letras que derramam sangue e lágrimas, e cantorxs emocionarem milhões de pessoas com a loucura da paixão, o amor único e a dor do abandono. É muito fácil lembrar e dar exemplos de músicas românticas. É impossível esquecer Fafá de Belém gritando "Abandonaaaaaaaaaaaaaaada por você!/ Apaixonada por você!", Maria Bethânia com "Negue o seu amor, o seu carinho/ diga que você já me esqueceu" ou hit dos anos 90 "É o Amor/ Que mexe com minha cabeça/ E me deixa assim/ Que faz eu pensar em você/ E esquecer de mim/ Que faz eu esquecer/ Que a vida é feita pra viver." Há canções românticas lindíssimas, mesmo com a exaltação do amor idealizado, com suas alegrias e tristezas.
O que não é muito fácil de encontrar são as músicas que cantem outras formas de amar não-românticas, sem possessividade, desejando o bem dx amadx mesmo elx querendo estar erótico-afetivamente com outrxs. E a música faz parte da nossa cultura, nosso imaginário, colabora na construção das subjetividades e das práticas sociais. Então eu resolvi elencar oito músicas que cantem o amor livre, a poligamia ou o poliamor. Para quando você estiver pensando nos seus amores, amantes ou pegas, desejar que eles sejam livres como você. Para cantar junto com xs amadxs, com vários corpos e afetos múltiplos, uma trilha sonora livre da tradição, família e propriedade:

A Maça

Composição: Raul Seixas / Paulo Coelho / Marcelo Motta


Raul canta a potencialidade de um amor livre, porque a dois, fica pobre e se desgasta. Por mais que se venha a sofrer por ciúme, "que é vaidade", o "Amor só dura em liberdade".

Nosso estranho amor
Composição: Caetano Veloso



Esse estranho amor que "Não importa com quem você se deite / Que você se deleite seja com quem for". E se apertar o coração e for ciúme, "Deixa o ciúme passar e sigamos juntos". E Caetano termina dizendo "Lutemos mas só pelo direito / Ao nosso estranho amor".


Poligamia
Composição: George Israel / Paula Toller



Amor plural e sem egoísmo "Meus amores não são / Implicantes
Com meus outros amantes..." e independente do sexo/gênero "Todo homem merece um harém / Toda mulher também...".


Já sei namorar

Composição: Marisa Monte / Carlinhos Brown / Arnaldo Antunes




O maior hit dos Tribalistas é um hino do desapego, da ficada. Lembra aquelas festas ou aquela turma em que "Eu sou de ninguém / Eu sou de todo mundo / E todo mundo me quer bem / Eu sou de ninguém / Eu sou de todo mundo /E todo mundo é meu também" Se alguém "quer apito em jogo", o outro diz "Eu quero é ser feliz!".


Dois amores
Composição: Fátima Guedes



E quando se está amando e de repente surge "Outra boca, outro corpo / Outras mãos...", Fátima Guedes pergunta "Como eu posso amar e tanto assim / Aos dois?" Sem culpa de ter dois amores, reivindica ao primeiro "Não me peça / Pra parar de te querer" e "Se o meu coração / Puder ser de mais alguém / Deixa eu ir, deixa ser / Deixa estar, tudo bem".

O seu amor
Composição: Gilberto Gil





Brincando com o slogan da ditadura militar "Ame-o ou deixe-o", Gil faz uma canção simples, cantada juntos com seus outros três companheiros Maria Bethânia, Caetano Veloso e Gal Costa, os Doces Bárbaros, que fala da liberdade ao amado, o amor livre, solto: "O seu amor / Ame-o e deixe-o / Livre para amar (...) / Ir aonde quiser (...) / Ser o que ele é"

A sua
Composição: Marisa Monte




O fato de pensar e  viver o amor de forma libertária, não significa ausência da saudade. E Marisa Monte canta uma saudade generosa, desejando o bem-estar do amado e que ele saiba "eu te quero sempre em paz (...) Aonde for não quero dor, eu tomo conta de você / Mas te quero livre também / Como o tempo vai o vento vem". 

Samba da Silvia
Composição: Joyce / Silvia Sangirardi







O samba de Joyce, cantando por ela e a grande Elza Soares diz "Quando eu dou, não tomo / Multiplico, não somo / Amo, mas não domo / Sou fada e gnomo". E dá seu recado feminista "Chega pra cá, minha bela / abre os ouvidos, me escuta / devolve logo a costela / toma um rumo e vai à luta!".

Para saber mais sobre música e amor livre, leia o capítulo "Já sei namorar???: as transgressões em temas de amor e sexo na MPB" no livro "História sexual da MPB" de Rodrigo Faour. Parte das músicas elencadas aqui, eu relembrei ou conheci através dessa leitura.

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Finalizo com o excelente texto do Alessandro Martins, que traduz muito do que é ser um poliamorista, poligâmico ou praticar o amor livre. 

UMA VISÃO PRÁTICA E SEM METÁFORAS DE MEUS ATUAIS RELACIONAMENTOS

Amizade.
Sempre amizade.
Baseada em verdade, clareza, gratidão e liberdade.
Tenho vários relacionamentos, mas todas as meninas com que saio sabem como sou, o que podem esperar de mim e algumas delas até se conhecem e já saíram juntas.
Falar a verdade, desde o início, ajuda a aproximar quem gosta do jeito que você pensa e afasta aqueles que não gostam.
E mantém perto aquelas pessoas que gostam de você, independentemente de como você pensa. E essas não se surpreenderão negativamente mais tarde.
Por exemplo, eu tenho relacionamentos muito íntimos com cada uma dessas meninas, mas não poderia dizer que qualquer uma delas é minha namorada.
Não é isso.
Acontece que posso dar a cada uma delas coisas que outras pessoas não poderiam. E outras pessoas dão a elas coisas que eu não poderia.
E cada uma delas dá coisas pra mim que só individualmente dão.
Por outro lado, há coisas que, sozinhas, cada uma delas não dá. E que eu, como ser humano, preciso. E de maneira nenhuma pediria para ela. E, então, busco em outra.
A liberdade entra no que diz respeito a permitir mutuamente essa busca.