sábado, 14 de junho de 2014

Alegre

​Lá vai ela com lábios em forma de meia-lua. Tá sorrindo! Tá vendo? Ó lá, às vezes dança sem motivo. Rebola, requebra e agita os braços. Ó lá, tá vendo? E o brilho nos olhos? É pura luz. Pra quê? Pra quem? Não olhe nos olhos. Periga de te mandar um beijo. É, tô falando. Manda beijo sim. Assim ó. Indecente. Sem mais nem menos. Teve um dia que eu passei perto e me ofereceu um abraço. Aí eu contei para outras pessoas e me disseram quem ela abraça gostoso, aconchegante. Para quê? Ó lá, tô te falando! Já tá abraçando ali. Viu? A pessoa saiu sorrindo. Ela vive rindo, to-da-ho-ra! Eu passo por ela bem agudo, com seriedade, não dou brecha. Ó lá, outro abraço. Precisa disso? Tem dia que ela canta. Quais? Todo tipo de música que emociona. Aquelas boas de amor que pega fundo? Ixi, sabe todas e a danada tem voz boa. Tem dia que declama poesia. É! De cor e salteado! Se é dela? Claro que não, né?! 'Magina que ela é poeta, é tudo de livro. É... Ela é bem desocupada. Ou será que tem coisa da cabeça dela? Às vezes quando eu estou me aproximando e ouço aquela da pedra no caminho... Eu tenho vontade ir para cima, de xingar, porém não quero confusão, sabe? Mas dá vontade de mandar ela enfiar a pedra no meio daquele lugar. Oh se dá! Não dá? Ó lá... ó lá... Pegou uma flor e deu pra'quele cara ali. Ai que nervoso... Precisa? Muito jogada, dada, pra cima. Não dá. E ninguém faz nada, acredita? Já chamei até a polícia, quando eles chegaram, ela rodopiou feito bailarina, abriu um sorrisão e cantou uma cantiga. Eles riram e foram embora. Cê, acredita? Onde mora? Sei lá onde essa praga mora. Vai ver nem mora, viu? Fica por aí. Iiiiii, o rapaz da flor voltou com um chocolate e deu em sua mão. Já sabe onde dá isso, né? Tô te falando... ela é assim mesmo, desavergonhada. Um dia eu parei na frente dela, logo nos primeiros meses em que apareceu, e perguntei: menina, você veio de onde? Ela não respondeu. Eu repeti. Ela continuou muda e jogando pétalas de uma margarida para o céu e tentando mantê-las mais tempo no ar com o próprio sopro. Então eu a chamei de louca. Louca! Você é louca! Ela respondeu: eu sou alegre. Você é louca! "Eu sou alegre". Louca! "Alegre". Então num momento de fúria eu cheguei perto da pequena bruxa e firmei: Você é lou-ca! Por que acha que é alegre e não louca? Ela, quase encostando seu nariz no meu, disse bem rápido: porqueémelhorseralegrequesertristealegriaéa melhorcoisaqueexisteéassimcomoaluznocoração. E saiu correndo. Quando estava quase desaparecendo da minha visão, virou-se e me jogou um beijo.

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