quinta-feira, 5 de setembro de 2013

Indo para o trabalho encontro na rua uma amiga do tempo do colégio.
- Oi, querido. Tudo bem? Quanto tempo!
- Tudo bem e você?
- Eu tô bem. Tá trabalhando? Tá namorando?
- Sim, estou namorando e trabalhando.
- Que ótimo. - Ela sorri.
- Mentira. Eu não namoro e estou desempregado.
Dou uma risadinha. Ela reage antagonicamente, põe a mão esquerda levemente sobre meu peito e diz:
- Mas fica tranquilo que tudo vai melhorar.

Nos despedimos e eu fiquei pensando que em 15 segundos de conversas e depois de anos sem nos vermos, ela só queria saber se eu tenho um emprego e um namorado. Geralmente ter um trabalho mediano e alguém para chamar de seu, deixa uma impressão de que a vida caminha bem. Ou esse seja o caminho natural a seguir. Nascidos para trabalhar, namorar, casar e reproduzir, ainda muitos pensam assim. Como se ter uma ocupação de segunda a sexta, das 8h às 17h, e um namoradx fosse garantia de felicidade. Conheço dúzias de pessoas que são infelizes com as horas que dedicam aos seus trabalhos. Gente que namora e vive um rio de dúvidas, transtornos, falta de tesão constante. Mas para o mundo pelo menos não estão sozinhas e estão trabalhando. São ilusões de felicidade, como esta, que se arrastam todas as sextas-feiras para os bares depois de uma semana cansativa, para as camas dos profissionais do sexo que muitxs alugam seus ouvidos e falam toda sorte de maldições sobre trabalho e vida conjugal. O trabalho em vez de ser uma utilidade pública e/ou envolver expectativas e desejos individuais sem destruir seu próprio mundo interior, é apenas uma forma de galgar o degrau da classe social acima, então um "Tá trabalhando?" quer dizer "Tem dinheiro?". Ter alguém para chamar de namoradx, marido ou esposa dá a impressão do mínimo de sucesso afetivo. Estar empregado e ter um namoradx envolve um caldeirão de variáveis. Da frustração à alegria. Porém segue-se aparentemente bem por vestir uma roupa-(anti)social e exibir o crachá no peito na hora do almoço e gastar o dinheiro com o suor amargo passeando com namoradx no final de semana.
O combo máximo é quando na "firma" o indivíduo fala mal dx namoradx e no sábado e o domingo passa horas do dia reclamando do trabalho.

Não é só com 44 semanais e uma aliança no dedo que se tem uma vida, que depois olhando para trás, poderá se dizer que valeu, que foi boa ou minimamente satisfatória. Não mesmo.

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